A palavra “sagrado” nos remete a algo ligado a divindade e segundo a definição do dicionário¹, com um viés teológico, é aquilo que é digno de veneração ou respeito religioso pela associação com Deus, aquilo que recebeu a sagração.
As mais diversas escrituras sagradas, desde os povos da antiguidade, como o Papiro de Ebers (do Egito), até as que norteiam os preceitos das religiões atuantes no mundo, a Bíblia, o Alcorão, os Vedas, a Torá, trazem registros de ações, gestos, palavras, objetos e plantas que foram utilizadas em cerimônias e rituais religiosos e exatamente por isso foram (e ainda são) consideradas sagradas.
Plantas e seus derivados, como os óleos, unguentos e incensos, mencionados em diversas passagens, foram utilizados segundo a disponibilidade da espécie que se desenvolveu nas regiões específicas e associadas com o local onde as cerimônias eram realizadas e, consequentemente, o local de assentamento de cada um desses povos.
De uma forma mais ampla, sabemos que a flora do mundo todo tem sido explorada e empregada como matéria-prima na fabricação de alimentos, medicamentos e na indústria de perfumaria e cosmética, e que sem dúvida também poderiam ser consideradas sagradas, uma vez que corroboram para manutenção da vida e bem-estar do ser humano e inclusive a cura de diversos males. Algumas plantas já foram (e continuam sendo) utilizadas há tanto tempo quanto aquelas mencionadas nas escrituras sagradas, como por exemplo, pelos povos indígenas que habitavam as regiões que foram colonizadas na época das grandes navegações. Certamente, para eles, as plantas utilizadas são consideradas sagradas, ainda que seu registro não esteja documentado formalmente em um livro que eventualmente também poderia ter sido considerado sagrado.
Então, se a sacralidade pode ser observada em toda criação, porque algumas plantas (matéria aromática de onde alguns óleos essenciais são extraídos) acabaram recebendo essa denominação em especial? Por que somente alguns óleos foram considerados sagrados? Depois do lançamento do livro Diário Aromático com os Óleos Essenciais das Escrituras Sagradas, essa foi uma das perguntas mais recorrentes que recebi (e ainda recebo). Interessante poder constatar que algumas pessoas questionam isso por mera curiosidade, já outras se sentem até mesmo indignadas pelo fato de que o óleo que mais apreciam não faz parte dessa lista, como por exemplo, a Menta, a Lavanda, a tão especial Rosa ou o tão necessário Tea Tree.
Como dito anteriormente, isso ocorre única e exclusivamente devido ao registro da finalidade com que algumas plantas e óleos foram utilizados e principalmente pela estreita relação com as questões religiosas. Com esse critério em mente podemos observar vários exemplos, como o que temos em uma passagem bíblica no capítulo 30 do livro do Êxodo (Velho Testamento), onde há a indicação de plantas para formulação de um incenso e de um óleo santo e purificador, um composto resultante de um blend específico, cuja receita foi passada para Moisés pelo próprio Criador, com as orientações sobre o que, onde e quando usar, a proporção de cada um dos ingredientes para formulação dessa mistura e inclusive a clara explicação do momento adequado para sua utilização. Receita completa!
Essas informações obtidas dos registros sagrados, unidas as outras informações que surgiram depois, graças há possibilidade de testes e dos resultados de várias pesquisas feitas (e que continuam sendo realizadas), promovem uma ampliação do nosso repertório e da nossa visão (compreensão) dessas plantas.
De forma muito significativa (e particularmente considero isso fascinante), é possível observar o quanto essas informações do “antigamente” e de “hoje” são convergentes. O artigo² publicado em 2018 no Jornal de Etnofarmacologia, intitulado “Óleos essenciais e a fumaça de incenso de olíbano e mirra contra micro habitantes de ambientes sacrais. Sabedoria dos antigos?” destaca as propriedades antimicrobianas do óleo essencial de Frankincense (B. carteri). Em uma celebração religiosa e nos rituais diários da igreja, naturalmente há uma concentração maior de pessoas e o aroma e a fumaça do incenso, além de suscitar e incutir a percepção do sagrado para o evento, também atuava de forma a proteger as pessoas, como bem aponta o artigo, devido “ao seu potencial claro como um agente antimicrobiano natural”. Novamente, mais um exemplo da atuação integral do óleo essencial, tanto no físico quanto no espiritual.
Vale lembrar que o Frankincense, também conhecido como Olíbano ou Incenso, foi um dos presentes ofertados pelos Reis Magos para o menino Jesus, o Cristo, conforme narra o segundo capítulo do Evangelho escrito por São Mateus. Ter a oportunidade de trazer esse aroma para nossa casa é um grato deleite, pois é mais uma das opções que estão a nossa disposição para nos conectar com o Divino e com esse momento tão peculiar da história, além de purificar o ambiente. Que tal incluir a queima desse incenso no presépio e/ou utilizar o óleo essencial no aromatizador de ambiente?
Valendo-se dessa harmoniosa comunhão entre a atuação sutil dos óleos essenciais e sua relação com o sagrado, fica a proposta para que você venha participar dessa trajetória aromática com 12 óleos sagrados durante todo o ano de 2021. Iniciaremos a jornada hoje, no dia 07 de dezembro, com o curso que será ministrado das 19h30 às 21h30, até 10 de dezembro e após a conclusão das aulas, teremos o acompanhamento por um ano, para que cada participante possa fazer o seu diário aromático, fortalecendo essa conexão, aprofundando as reflexões, observando as percepções e os insights, registrando esse percurso e principalmente, celebrando a conclusão desse caminhar, com a certeza de que a chegada é apenas um novo ponto de partida.
Que a sutileza dos aromas e da matéria aromática sagrada nos acompanhem durante todo ano novo que se aproxima, despertando novos aprendizados, acalentando nosso coração e honrado o sagrado que também habita em cada um de nós!
Namastê!
Profª. Kátia Veloso
Aromaterapeuta e Terapeuta Maha Lilah.
¹ Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/sagrado/
² Ljaljević Grbić, Milica et al. “Frankincense and myrrh essential oils and burn incense fume against micro-inhabitants of sacral ambients. Wisdom of the ancients?” Journal of Ethnopharmacology vol. 219 (2018): 1-14. doi:10.1016/j.jep.2018.03.003