“Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”

Manoel de Barros

Você já viu, leu ou ouviu a expressão “sense of wonder”? Traduzindo literalmente seria o senso (ou sensação) de maravilha. Já encontrei textos que também traduziram como sendo de encantamento e senso de admiração. Particularmente eu gosto da palavra maravilha porque fica fácil de entender o seu conceito.

Acredito que alguma vez, e sinceramente espero que tenham sido muitas vezes, você deve ter se deparado com uma situação que deixou você simplesmente “maravilhado” com o que viu, ouviu ou sentiu. É aquele famoso momento em que a boca abre, o queixo cai e naturalmente você diz: “UAU”! Isso é o senso de maravilha ou de encantamento. Considero que a palavra admiração poderia até ser usada, mas não é exatamente e somente uma admiração, vai além disso e justamente por isso que se torna uma encantamento, uma maravilha. É algo que promove um verdadeiro deslumbramento!

Esse é um sentimento muito peculiar porque cada indivíduo pode se maravilhar com coisas muito específicas, com aquilo que tem um significado especial para ele(a) e que normalmente está relacionado com seus valores, suas crenças e até mesmo suas lembranças. No geral, podemos nos encantar com uma música ou som, como a apresentação de uma orquestra, com um filme ou uma cena especial pela mensagem que é transmitida, com a leitura de um livro ou um determinado trecho, com uma palestra ou até mesmo com uma simples observação, tanto de uma obra de arte quanto de uma paisagem.

Independente do objeto, lugar ou pessoa que nos leva para esse lugar especial de “maravilhamento”, uma coisa é certa: essa é uma capacidade inerente do ser humano.

Cultivar essa ação em nossas vidas traz inúmeros benefícios. Pesquisas¹ feitas com o objetivo de verificar essa questão foram realizadas com um grupo de pessoas que assistiram vídeos que potencialmente pudessem despertar esse encantamento e outro que assistiu vídeos neutros ou considerado legais. Foi possível observar que maravilhar-se efetivamente ajuda a reduzir o estresse. Porém, os benefícios vão muito além e provavelmente o mais relevante relaciona-se com a nossa percepção. Quando temos a oportunidade de vivenciar uma experiência “uau”, nós nos deparamos e nos conectamos com algo maior do que nós. Esse simples fato é o suficiente para nos auxiliar a transcender as nossas referências já estabelecidas (como uma moldura) e isso representa a verdadeira possibilidade de “sair fora da caixa”. Além disso, essa conexão também permite que os nossos modelos mentais sejam expandidos e com isso, somos estimulados e expostos a novas maneiras de pensar e, consequentemente, novas maneiras de sentir. Segundo o médico David P. Fessell e a psicóloga Karen Reivich, as pessoas que sentem esse encantamento também relatam níveis mais elevados de satisfação geral com a vida e bem-estar. Soma-se a tudo isso ainda o fato de que sentir que somos parte de algo maior do que nós é uma experiência muito positiva porque aumenta a nossa energia e a nossa resiliência.

Para saber o que pode despertar esse sentimento em você, é possível basear-se em duas questões simples, sendo a primeira a mais ampla e a segunda voltada para a nossa rotina:

1ª) “O que é capaz de tirar o seu fôlego?” Você está respirando normalmente e de repente, algo traz um encantamento tamanho que esse ato tão normal é interrompido. Você faz a inspiração e simplesmente, mesmo que por uns instantes, interrompe o movimento. O ar fica nos pulmões, a expiração para e o seu fôlego some. Em julho de 2019 eu tive a oportunidade de visitar o Egito e quando me vi frente a Grande Pirâmide de Gizé, essa sensação foi tão intensa que além do fôlego também faltou a voz e a firmeza nas pernas. Quando tentei falar alguma coisa, comecei a gaguejar. Ficou mais que claro porque ela é considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. De fato, é de maravilhar-se mesmo.

2ª) “O que é belo aqui?” ou “Qual a beleza desse lugar que me encanta?” Olhe ao seu redor e observe. Na sua casa, no seu trabalho, no seu bairro, pode e deve haver algo que desperte esse “maravilhar-se”. Ultimamente meu marido e eu estamos maravilhados com a experiência de plantar, cultivar, cozinhar e degustar uma pequenina parte da nossa alimentação: cúrcuma, couve-manteiga e alguns temperos. Tudo isso em vasos!

Quando comecei a estudar aromaterapia, esse senso de maravilha tomou conta de mim e ficou ainda mais intensificado com o estudo específico de alguns óleos que verdadeiramente tocaram um espaço muito especial na minha alma. Mesmo depois de anos, até hoje isso ainda ocorre, cada vez que acesso alguma informação nova e que novamente me remete a esse lugar de encantamento.

Um óleo essencial que pode nos ajudar a desenvolver esse senso de maravilha é o Clary Sage (Salvia sclarea). Seu aroma adocicado e floral desperta a nossa percepção e dessa forma podemos ampliar a captação das informações que temos ao nosso redor. Um dos usos tradicionais da sálvia esclareia é tratar os olhos e sua água destilada (hidrolato) de flores e folhas é indicada para acalmar os olhos cansados. Além de cuidar dos nossos olhos físicos, Clary Sage (clear eye) também nos conecta com a capacidade de enxergar além da visão, aumentando nossa clareza intuitiva natural.

Que você possa “enxergar” cada vez as maravilhas que estão presentes em sua vida. Encante-se!

Seguimos em frente nas nossas reflexões.

Até a próxima!

Namastê!

Kátia Veloso

Educadora, Aromaterapeuta, Terapeuta Maha Lilah e Floral

¹FESSELL, David. REIVICH, Karen. Why You Need to Protect Your Sense of Wonder — Especially Now. Harvard Business Review. In: https://hbr.org/topic/behavioral-science (último acesso em 25/08/21).