“Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos.”

                                 Anaïs Nin (escritora francesa)

Talvez você já tenha lido ou escutado essa expressão do “eu”, escrito com letras minúsculas e que se refere a parte mais terrena de cada pessoa, e do “EU”, escrito com letras minúsculas para fazer uma alusão ao ser superior que também está em todos nós. Embora muitas vezes sejam mencionados de forma separada, ambos fazem parte de cada ser humano. Juntos e separados, isto é, cada um tem a sua peculiaridade e há a necessidade de uma conexão para que a harmoniosa conciliação dessas duas partes possa proporcionar o melhor desenvolvimento e evolução possível para nossa alma.

O ideal é essa conexão estar alinhada, mas nem sempre o ideal se concretiza. Duas questões nos levam a refletir sobre esse aspecto.

1º) Como saber qual a diferença entre um e outro? O eu (também chamado de inferior) se manifesta por meio do ego, cujo foco é satisfazer suas próprias necessidades. O EU (também chamado de superior) diz respeito ao nosso padrão de consciência e quando cada um se conecta com esse aspecto, sua mentalidade se torna mais positiva e, além de uma vida mais abundante e serena, as orientações recebidas nos auxiliam a controlar o nosso ego e consequentemente ter uma visão mais clara da vida, o que nos permite sermos felizes e desfrutar dessa felicidade. Vale ressaltar que o ego faz parte de todos nós e deve ser controlado. Quando o “eu” está no comando é comum a pessoa se sentir uma vítima das circunstâncias e do que acontece, ter uma constante sensação de insegurança devido à escassez resultante do fato de que nada é suficiente e se encontra, na maioria do tempo, competindo com o mundo. Quando o “EU” está no comando, a pessoa está ciente de que ela é responsável e cria a sua própria realidade, vive em abundância porque sempre há o suficiente para ela e os que a rodeiam, sente-se feliz e em harmonia com os ciclos que são vivenciados.

2º) Como alinhar esses dois aspectos, o “eu” com o “EU”? Além da meditação, para ajudar cada um a se conhecer melhor e da possibilidade de usar a escrita terapêutica por meio de um diário, a Aromaterapia pode oferecer suporte para que essa conexão seja feita de forma eficaz e sutil por meio dos óleos essenciais. Especialmente para essa questão temos a indicação do óleo essencial de Murta (Myrtus communis).

O aroma agradável da murta já encantava a humanidade desde antiguidade. Por sua delicadeza e beleza, a flor foi consagrada a Afrodite, a deusa do amor, da beleza e da sexualidade na mitologia grega. O mesmo aconteceu com a mitologia romana, sendo que o nome murta é considerado uma derivação do nome Múrcia, título recebido pela deusa Vênus que também era considerada a deusa da beleza e do amor.

No aspecto físico, o óleo essencial de Murta possui a propriedade de balancear os hormônios no geral e a tireoide. Esse efeito equilibrador pode ser observado em outros campos, o que confere uma ação de integralidade. Worwood¹ descreve que o aroma da murta está relacionado e nos conecta com o que há de mais puro e absoluto, um espaço tão especial e harmonioso que se torna praticamente impossível a entrada e existência do ego. É justamente nesse lugar onde há a compreensão de que tudo é UM e o UM se torna tudo e, portanto, não há começo e nem fim. Aqui temos um alinhamento entre o eu (inferior) e o EU (superior).

Por meio dessa compreensão, o aroma da murta nos leva a um lugar de avanço dentro do espírito e nos ajuda a recordar que é nesta existência que nos preparamos para outra ao longo do ciclo evolutivo, conforme transcendemos de um para outro, pois, segundo o budismo, estamos todos na Roda do Samsara (encarnação e reencarnação). Esse ciclo só pode ser quebrado por meio da iluminação.

No filme Drácula: A História Nunca Contada (2014), há uma citação que ilustra bem esse aspecto transcendental da murta e poderia ser considerada inclusive uma frase-murta. Frente a uma situação em que a morte poderia separar Drácula de sua amada e na tentativa de acalmar essa antecipação, surge a seguinte fala: “O tempo é sempre curto demais para os que precisam dele. Mas para os que amam, ele dura para sempre. Pois se o coração é forte o bastante a alma renasce. Em cada novo dia. Vida após vida. Era após era. Para sempre. Por que pensar separadamente nesta vida e na próxima se uma é a continuação da outra?”

Vivemos de forma cíclica, onde os ciclos menores estão dentro dos ciclos maiores e em cada um deles temos a nossa presença e participação. É justamente essa interação que promove as oportunidades de aprendizado. Independente da crença de cada um no processo da reencarnação ou não, todo nós estamos no aqui e no agora, momento em que as ações que realizamos vão reverberar no espaço-tempo. Na busca para que essas ações possam estar cada vez mais conectadas com a harmonia e o seu propósito, podemos contar com o apoio desse óleo essencial de Murta para nos trazer de volta para o sagrado lugar de nossa alma que compreende que todos nós, na verdade, somos de uma mesma mente, um mesmo coração, uma mesma respiração, uma única consciência. Por isso o aroma fresco e herbáceo desse óleo promove a sensação de pertencimento, o que confere segurança e calma para seguirmos nossa jornada enquanto a roda continua girando.

Que a sua conexão seja fortalecida e que sua presença possa levar a mensagem da Murta para outras pessoas: “estamos juntos(as)!”

Até a próxima!

Namastê!

Kátia Veloso

Educadora, Aromaterapeuta, Terapeuta Maha Lilah e Floral

¹WORWOOD, Valerie Ann. Aromatherapy for the Soul. New World Library, California, 1999.