“Talvez seja este o aprendizado mais difícil: manter o movimento permanente, a renovação constante, a vida vivida como caminho e mudança”.
Maria Helena Kuhner
Esta semana é especial porque teremos a oportunidade de comemorar uma das mais tradicionais celebrações da igreja cristã – a Páscoa. Podemos observar que a força dessa egrégora se espalha pelo mundo todo e de certa forma todos nos conectamos a ela, em intensidades diferentes: uns se deliciam com os ovos de chocolate, outros fazem jejum e orações, há aqueles que se reúnem para comerem juntos (com a pandemia muitas dessas reuniões passaram a ser virtuais) e temos o grupo das pessoas que fazem tudo isso junto (e muito bem cada um)!
Interessante observar o trajeto que essa celebração percorre: no Domingo de Ramos relembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, um momento de festa e alegria. Na Quinta-Feira Santa (ou Endoenças) estamos na eminência de algo importante e há a preparação do que está por vir, na Sexta-Feira Santa, a Paixão de Cristo, nos leva ao momento mais emblemático dessa celebração, pois essa passagem se faz necessária para que a Páscoa tenha o seu significado – renovação. No Sábado de Aleluia realiza-se a vigília Pascal, representando a espera dos fiéis (os apóstolos) pela ressureição de Cristo e no Domingo de Páscoa retomamos a festa e a alegria lá do início, mas dessa vez o motivo é o fato de Jesus ter ressuscitado. É o momento (triunfal também) de celebrarmos a vida.
Traçando um paralelo com nossa jornada, gostaria de propor uma reflexão aromática que nos levasse a todas as etapas acima com o intuito de honrar cada uma delas. Todas essas fases, representadas no espaço de uma semana, podem também se relacionar com períodos maiores e até mesmo com a nossa vida!
– Domingo de Ramos: pense por um instante e procure se lembrar de um momento da sua vida em que você se sentiu confiante, agraciado, reconhecido, valorizado e isso te trouxe a alegria da satisfação. (Como Jesus entrando em Jerusalém). Quantas vezes você proporcionou isso para outras pessoas (reconhecendo o valor delas, valorizando-as)? Há um ditado que diz que ninguém dá o que não tem, portanto para valorizar o outro eu tenho que aprender a valorizar a mim mesmo! Esse sentimento pode ser seriamente comprometido quando nos sentimos ameaçados e não merecedores, gerando insegurança e até mesmo falta de fé na nossa capacidade. Quando isso acontecer, a aromaterapia pode ser uma das ferramentas para nos lembrar que essa “entrada triunfal” também pode (e deve) ser feita por cada um de nós, mesmo que seja metaforicamente, pois todos temos o direito da alegria proveniente da satisfação pela realização do nosso trabalho. Nesse caso, podemos contar com a ajuda do óleo essencial de Manjericão (Ocimum basilicum), cujo aroma picante e forte promove a segurança ao nos expressarmos por meio da nossa essência verdadeira e autêntica. Para isso, auxilia a abertura dos centros de energia localizados na garganta e no coração, um movimento que afasta a insegurança e nos transporta para um estado de autoexpressão positiva.
Depois de entrar na cidade e antes da Paixão, Jesus visitou Lázaro e a irmã dele, Maria, pegou um jarro com perfume de nardo puro, lavou os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. Segundo João, 12:3 …E toda casa se encheu daquele belo cheiro. Alguns se incomodam e Jesus pede que a deixassem em paz porque ela está ajudando-o por meio da unção. Quando precisamos de ajuda na nossa caminhada frente aos desafios, quem é a nossa “MARIA”? Quem vem “perfumar” o nosso caminho com e aliviar o nosso andar? Quem foi a última pessoa que fez isso por você? O óleo essencial de Nardo (Nardostychys jatamansi) possui um aroma equilibrador do sistema nervoso e promove a doçura necessária para que possamos fazer as pazes com as pessoas que nos fizeram sentir mágoa, pois é preciso lidar e liberar esse sentimento para que sejamos capazes de ter um coração grato e reconhecer as “Marias” em nossa vida.
– Quinta-feira Santa: celebramos a Última Ceia e realiza-se o lava-pés, uma cerimônia símbolo de humildade e agradecimento daqueles (os apóstolos) que seguiram Jesus até o fim e com essa ação, o próprio Jesus se coloca como servidor. Que são os “apóstolos” da sua vida? Quem são aqueles que seguem e apoiam você na sua caminhada pelo simples fato de querer ver a alegria da sua satisfação, o seu sucesso? De quem são os pés que caminham lado a lado dos seus na sua jornada? Identifique essa pessoas e “lave os pés” delas, isto é, agradeça. Se tiver a oportunidade de fazer isso literalmente, a sugestão é preparar o “escalda-pé do agradecimento” (o agradecimento fica por conta da sua intencionalidade) com óleos essenciais relaxantes como Lavanda (Lavandula angustifólia), Cedro (Cedrus atlântica) ou Ylang-Ylang (Canaga odorata). Há espaços e spas que oferecem esse serviço e, portanto, há também a opção de, após o confinamento, presentear alguém especial.
– Sexta-feira Santa: celebramos a Paixão e Morte de Jesus Cristo, um verdadeiro processo de transformação, que promove a elevação para um patamar mais consciente. Durante a nossa vida, cada vez que um ciclo se encerra, temos uma “morte” de quem éramos naquele lugar (emprego, relacionamento etc.) e recebemos a oportunidade de renascer, crescer, evoluir, ganhamos uma chance de nos renovarmos e assim seguir em frente. Quando a mudança for eminente, o óleo essencial de Cipreste, como seu aroma acolhedor, traz a estrutura, a força e a proteção necessária para que a transformação ocorra, nos conduzindo a um estado onde nos sentimos apoiados. Quando nos sentimos mais desafiados, enfrentamos as situações mais difíceis, Cipreste nos lembra de que “isso vai passar” porque tudo é cíclico e nos auxilia a abandonar o que não mais faz sentido na nossa próxima etapa do caminho.
– Sábado de Aleluia: para celebrar esse dia, é acessa uma grande vela denominada Círio Pascal, que simboliza a Luz de Cristo que ilumina o mundo. Após vivenciarmos um processo de transformação, nossa consciência se expande e somos os primeiros a sermos iluminados por essa Luz. Poder compartilhar essa Luz com os demais também faz parte da nossa missão. Durante o seu trajeto, quais foram as pessoas que trouxeram Luz para sua vida e o(a) ajudaram a compreender algo que foi esclarecedor? Que foi ou é o Círio Pascal da sua vida? Além disso, quais são os seus talentos, dons, ações que, quando manifestados e a serviço do outro, leva Luz para as pessoas? O óleo essencial de Murta (Myrtus communis), com a sutileza e beleza do seu aroma, nos lembra de que todos nascemos conectados e, de fato, somos todos originários de uma só mente, um único coração, uma única respiração e uma única consciência – e é essa fonte inesgotável que abastece e mantém nossa chama acessa, a chama da LUZ que nunca se apaga, apenas transforma.
– Domingo de Páscoa: O júbilo está de volta e a satisfação do início pode ser sentida aqui também, porém a pessoa que sente isso não é mais a mesma do Domingo de Ramos porque ela passou por uma transformação e sai vitoriosa (a grande vitória é o aprendizado e ter vencido a si mesmo). Reveja um dos momentos de transformação da sua vida e como você se sente após ter vivenciado tudo o que aconteceu. Depois celebre esse momento porque ele te trouxe até aqui e independente do resultado, é preciso coragem para passar por esse processo. Parabenize-se pela sua coragem, você “ressuscitou”. Conte com o óleo essencial de Junípero (Juniperus communis) para essa empreitada! Seu aroma balsâmico amplia a capacidade de você gerar sua própria alegria e com isso propicia um clima mais alegre e positivo internamente. Esse óleo também nos lembra da importância de nos deliciarmos com as conquistas da vida (mesmo as mais simples) e nos conecta a um lugar onde a alegria se espalha pela nossa alma, por todo o nosso ser.
O tempo da Páscoa é um tempo especial porque nos dá a oportunidade de lembramos e refletirmos sobre as renovações que vivenciamos a cada dia e nos lembra que, com a renovação da VIDA, sempre surge a esperança de dias melhores, de pessoas melhores.
Feliz Páscoa para sua versão cada vez mais melhorada de si mesmo!
Namastê!
Profª. Kátia Veloso
Aromaterapeuta e Terapeuta Maha Lilah.
