“Sou muito grato às adversidades que apareceram na minha vida, pois elas me ensinaram a tolerância, a simpatia, o autocontrole, a perseverança e outras qualidades que, sem essas adversidades, eu jamais conheceria.”
Napoleon Hill
Nesta semana, seguindo com a nossa jornada da gratidão aromática, há outro aspecto interessante para refletirmos sobre esse tema – o que efetivamente nos leva a sermos gratos? Quais são os motivos que fazem com que uma pessoa reconheça, sinta e expresse essa virtude?
O famoso escritor americano Napoleon Hill nos traz um exemplo: ele se sentia grato pelas adversidades e pelos benefícios que elas trouxeram para sua vida. Assim como ele, há outras pessoas que também compartilham desse sentimento e há também aquelas que não se sentem, de forma alguma, gratas pelas adversidades vivenciadas até o presente momento. Elas podem experenciar outros sentimentos, como tristeza, raiva, culpa e inclusive se sentirem injustiçadas, mas definitivamente não se sentem gratas. Talvez o próprio Napoleon Hill tenha tido a oportunidade de agradecer as adversidades após um período de reflexão, análise da situação e contabilização e reconhecimento dos seus ganhos. Um processo que poderia ser atribuído a outro – o amadurecimento.
Como comentado anteriormente, se houvesse a divisão entre mente e coração, seria perfeitamente fácil e simples identificar os incontáveis motivos que temos para sermos gratos. Nossa mente pode estabelecer uma lista consideravelmente extensa. No entanto, nossa porção racional e a emocional devem estar em sintonia para que a gratidão seja percebida em toda sua extensão. A mente nos auxilia a identificar a ação e o coração é o que confere um significado tão especial para isso a ponto de nos colocarmos em uma posição de humildade, acolhimento e afeto. Nos coloca em uma posição de agradecimento. Poder sentir isso é tão especial quanto o significado que atribuímos ao presente recebido.
Duas perguntas podem nos ajudar neste ponto do nosso itinerário reflexivo:
– Por que deveríamos ser gratos? A gratidão é um dos atributos da alma. Sermos gratos nos conecta com a nossa essência divina, com o sagrado que habita em todos nós.
– O que faz as pessoas se sentirem gratas? Essa questão despertou o interesse de muitos, inclusive psicólogos, psiquiatras e pesquisadores. Segundo uma pesquisa¹ feita pela Universidade Católica de Valência e publicada no Journal Frontiers in Psychology (Fronteiras da Psicologia), os motivos pelo qual somos gratos podem ser distribuídos em quatro fatores, como segue:
1) Gratidão Interpessoal. Refere-se a gratidão que é experimentada para com outras pessoas ao receber um presente ou um ato de bondade. Está relacionada aos benfeitores com diferentes tipos de relacionamento com a pessoa que recebeu o benefício/presente. Também enfoca os elementos avaliativos, emocionais e comportamentais da gratidão (o processo apresentado no texto da semana passada). Esses relacionamentos podem ser desde membros da família até pessoas que mal conhecem uma à outra. Em relação a esse fator, somos gratos pela pessoa que nos fez algo.
2) Gratidão diante do sofrimento. Esse fator se refere à integração do sofrimento no conceito de gratidão. Seu conceito está ligado a capacidade de compreender situações de sofrimento como benéficas e de sentir gratidão apesar disso. O que pode se observar aqui é se a pessoa é capaz de seguir em frente apesar das dificuldades e usar a gratidão como recurso de resiliência. Inclui os elementos cognitivo-avaliativos e emocionais da gratidão. A gratidão é suscitada com base no valor que uma pessoa atribui às experiências que geram sofrimento. Somos gratos pelos desafios que vivenciamos, como o caso do Napoleon Hill.
3) Gratidão Transcendental. Essa é a gratidão experimentada para com as forças transcendentais (o referente existencial de cada pessoa, como Deus, sorte, destino, vida, providência divina etc.). Este tipo de gratidão não faz referência explícita a qualquer religião, mas abrange todas as experiências transcendentes, do mais concreto e formalizado ao mais subjetivo. Esse fator engloba a consciência dos aspectos positivos da existência, considerando-os como presentes e atribuindo implicitamente esses presentes a um agente transpessoal. Inclui o processo que leva ao reconhecimento dos bens e sua valorização, bem como a comparação social que dá origem à consciência dos aspectos positivos da vida. Somos gratos por aquilo de bom que temos ou que nos acontece, como nossa saúde, nossa família, ter recebido uma promoção etc.
4) Expressão de Gratidão. Aqui temos a experiência e a expressão de gratidão para com as forças transpessoais. As formas de expressão podem ser verbais, rituais e uma atitude em relação à vida de tentar ser feliz. Somos gratos pela oportunidade de nos sentirmos gratos.
Ontem, dia 21 de junho, o sol entrou no signo de câncer, marcando o solstício de inverno e o início dessa estação. Quando acordei, senti uma saudade grande dos meus avós paternos e maternos, pois tive a oportunidade de conviver com os quatro. A princípio achei estranha essa lembrança porque foi tão repentina e sem nenhum motivo aparente. Havia acabado de acordar e o final de semana foi dedicado as aulas do 5º módulo do curso de formação em Aromaterapia, ou seja, estava envolvida em outros assuntos e não conversei, mencionei ou pensei neles nos dias anteriores. Depois, conversando com uma pessoa é que eu percebi que o ciclo havia mudado, entramos na energia canceriana, que nos remete ao passado, a família, a genealogia, aos ancestrais. A saudade deu lugar a um profundo sentimento de gratidão por de ter tido a chance de conviver com eles e principalmente pelo fato de eles terem possibilitado, cada um trilhando o seu caminho, que eu pudesse estar aqui e agora. Em seguida, senti gratidão pela oportunidade de ter reconhecido esse sentimento. Um duplo presente: meus ancestrais e a minha gratidão a vida, ao destino. Gratidão Transcendental.
Jennifer Jefferies², aromaterapeuta e naturopata australiana, contribui com o nosso kit aromático da gratidão com o óleo essencial de Patchouli (Pogostemom cablin). Essa sugestão foi baseada no seu trabalho voltado para a Aromaterapia Intuitiva. Seu aroma, adocicado e amadeirado, proporciona a união de todos os níveis da nossa existência, permitindo que possamos estabelecer um foco e trazer a mente e o coração para trabalharem em unicidade e harmonia. Essa é a conexão necessária para manifestação da gratidão. Além disso, esse generoso óleo essencial promove a consciência para que a nossa percepção nos permita desfrutar de tudo o que a vida nos apresenta. Patchouli também nos desperta uma sensação de paz que atinge todas as áreas de nossas vidas.
E você, há algum motivo pelo qual se sente grato(a) hoje? Você concorda com os fatores apontados na pesquisa? Qual é o mais recorrente em sua vida?
Que a paz do Patchouli conecte cada vez mais o seu coração e a sua mente e que essa união possa lhe trazer alegria e gratidão.
Seguiremos em frente na próxima semana com a nossa caminhada aromática voltada para o ato de agradecer. Até lá!
Namastê!
Kátia Veloso
Educadora, Aromaterapeuta, Terapeuta Maha Lilah
¹Bernabe-Valero, Gloria et al. “Gratitude Questionnaire-20 Items (G20): A Cross-Cultural, Psychometric and Crowdsourcing Analysis.” Frontiers in psychology vol. 11 626330. 21 Dec. 2020, doi:10.3389/fpsyg.2020.626330
²JEFFERIES, Jennifer. Aromatherapy Insight Cards: For Intuitive Aromatherapy. Living Energy Natural Therapies, Australia, 2000.
