Ao iniciar o curso de Aromaterapia com uma turma nova, é comum as pessoas se apresentarem e além das informações como nome, cidade e profissão, temos por hábito indagar o motivo pelo qual a pessoa decidiu fazer o curso. Já ouvi as mais diversas explanações – desde o desejo de ter a formação para atuar como aromaterapeuta e assim mudar de carreira/área ou complementar uma profissão já consolidada na área da saúde, por exemplo, até por uma questão de poder dedicar algum tempo para si mesmo estudando algo que gosta ou para aproveitar o tempo livre devido a aposentadoria com um novo aprendizado. Certa vez uma pessoa comentou que sua intenção era aprender tudo o que pudesse sobre os óleos essenciais porque o seu objetivo era abrir um restaurante cujo diferencial seria servir pratos elaborados com óleos essenciais. Confesso que achei essa explanação inusitada e criativa.
Já tive a oportunidade de experimentar alguns pratos feitos com óleo essencial, como os brigadeiros com óleo essencial de menta e de laranja em uma festa de aniversário, maçãs com óleo essencial de menta em um curso ministrado pelo Dr. Penöel (servidas por ele mesmo) e um doce com óleo essencial de Neroli (do qual não me lembro o nome porque era grande e cheio de consoante) servido como sobremesa após o jantar, entre outros. Face a essa última experiência, faço aqui outra confissão – fiquei apreensiva ao degustar esse doce e pensar que o óleo essencial extraído da flor de laranjeira estava na composição dele e creio que esse sentimento se deve a uma questão de sustentabilidade mesmo e devido ao custo-benefício.
Alimentação é, indubitavelmente, um dos fatores fundamentais para contribuir com a nossa saúde física (que interfere também na saúde emocional, mental e inclusive espiritual) e também um assunto do qual considero prazeroso aprender e por isso leio, pesquiso e estudo sobre o tema. Puro deleite!
Ao ouvir a explanação na apresentação daquela pessoa mencionada acima, imediatamente lembrei do livro “O que Einstein disse ao seu cozinheiro – a ciência na cozinha”, escrito por Robert L. Wolke. Além de informações interessantes e receitas diferentes (como a gelatina de champagne), o capítulo 4, intitulado “Química na cozinha”, traz uma afirmação que considero ser pertinente para contribuir com essa discussão, onde o autor declara que “a aplicação de calor aos alimentos provoca reações químicas, resultando em mudanças químicas que esperamos sinceramente enfatizar o sabor, a textura e a digestibilidade que eles têm. Mas a arte da culinária, diferente do ofício, reside em saber que ingredientes ‘reagentes’ combinar e como combiná-los e manipulá-los para produzir mudanças químicas mais gratificantes. […] Uma grande variedade de moléculas diferentes desempenha uma grande variedade de papéis na mistura de reações químicas quase infinitamente complexas que chamamos de culinária, metabolismo e, na verdade, a própria vida”.
Portanto, se os alimentos sofrem alterações em função do calor a que são submetidos, a questão que temos aqui é justamente verificar a influência do calor no uso e na composição dos óleos essenciais, levando-se em consideração que, dependendo do prato, a temperatura e tempo de cozimento são variáveis, o que nos leva a uma gama considerável de análises e informações.
Além disso, como já foi comentado em outras postagens, há uma pergunta chave que deve ser averiguada antes mesmo de pensarmos na reação química desencadeada pelo uso dos óleos essenciais – Qual a finalidade/propósito? A resposta pode ser por uma simples questão de curiosidade, prazer, para explorar novos sabores e é perfeitamente compreensível, apenas incluo, quando penso nisso, a questão da sustentabilidade.
No lançamento de uma marca de óleo essencial aqui no Brasil houve um evento ao vivo que transmitiu um chef cozinhando com óleos essenciais e essa mesma marca, atualmente, também está patrocinando um programa de culinária na TV para promover o uso dos óleos essenciais de lavanda, manjericão, cominho, orégano, hortelã e alecrim, cravo, noz-moscada, casca de canela, pimenta preta, gengibre e cardamomo, laranja, limão e lima na elaboração de pratos diversos. A diretora de marketing dessa empresa comentou que é tendência mundial usar óleos essenciais na gastronomia para enriquecer e dar sabor às receitas doces ou salgadas. Se esta for a finalidade, então temos outras duas questões para ponderar:
1ª) Qual a quantidade ideal? Sabemos que o paladar varia de pessoa para pessoa e, além disso, destaco que é preciso uma grande quantidade de matéria aromática para extração do óleo essencial, o que faz com que os óleos essenciais sejam bem concentrados. Portanto, usar uma gota de óleo essencial é diferente de usar a famosa “pitada” de orégano na pizza, alecrim nas batatas ou hortelã no molho, o que nos remete a questão da dose, que em função da potência e intensidade do aroma e do sabor, também pode variar de um óleo essencial para outro. Os brigadeiros que saboreei, servidos na festa de aniversário, foram o resultado de 3 tentativas que não funcionaram muito bem (e foram descartadas), pois os sabores não harmonizaram, apenas prevaleciam e se mantinham, o que influenciava inclusive na degustação de outros alimentos. Nesse caso, creio ser assertivo buscar informações que possam auxiliar sem que haja o desperdício. A editora Laszlo lançou o livro “Óleos essenciais para a cozinha e o bem-estar” e embora eu não tenha lido o livro ainda, conheço pessoas que leram, gostaram e recomendam. Certamente pode ser um ponto de partida, caso tenha interesse.
2ª) É necessário? Essa pergunta incluiu a reflexão da sustentabilidade mencionada acima. Os óleos essenciais para fins terapêuticos são (devem ser) supervisionados e controlados em toda sua cadeia produtiva e isto inclui o cultivo da planta de onde o óleo será extraído, a colheita, o processo de extração, o envasamento do produto e a sua distribuição e comercialização para garantir o padrão de qualidade. Quando iniciei os estudos sobre Aromaterapia, alguns óleos essenciais eram facilmente encontrados e com preços bem acessíveis e hoje esse quadro já se modificou, tornaram-se óleos raros, caros e busca-se alternativas para o cultivo de outras espécies.
Enfim, como toda segunda-feira temos essa proposta de refletirmos sobre a Aromaterapia e os óleos essenciais, gostaríamos muito de saber de vocês se já experimentaram algum prato com óleo essencial, se já cozinharam com os óleos essenciais e como foi essa experiência. Compartilhe essa informação conosco e com as outras pessoas que também visitam o nosso blog.
Namastê!
Kátia Veloso
Educadora, Aromaterapeuta e Terapeuta Maha Lilah.
WOLKE, Robert L. O que Einstein disse ao seu cozinheiro – a ciência na cozinha (inclui receitas). Tradução Helena Londres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed,2003.
WILSON, Mélinda. Óleos essenciais para a cozinha e o bem-estar. Belo Horizonte: Laszlo Ed, 2018.
4 Comentários
Eu já usei OE de manjericão no maçarão mas não gostei ficou muito forte. Prefiro a erva mesmo. Se pensarmos na sustentabilidade, na temperatura, etc. ,como foi dito no texto acho que não é totalmente viável o uso de OEs na culinária. Somente se for algo que vai efetivamente ajudar na saúde.
Parabéns pelo tema. Muito bem colocado. Na minha visão, OE está sendo tratado como “modinha”. E como tudo, logo passa. Mas o que me preocupa é o que pessoas desavisadas, mal informadas e meras seguidoras de “modinhas” vão acabar tropeçando e levando outras a tropeçar pelo caminho. Não me agrada pensar o que poderão atribuir aos OEs …
Se alguém quer colocar seu toque de Alecrim, pegue a erva fresca, inale seu aroma delicioso e faça sua “sinergia” alimentar. Deixe o óleo essencial de Alecrim para inalações, outras sinergias apenas aromáticas.
Às vezes penso que as pessoas precisam refletir sobre sua fase oral, à fase da amamentação, do bebe, pois, como nessa fase, tudo remete à comida. Será que não tem algo a se pensar? E nesse quesito os OE podem ajudar, e muito! Mas, sem usar na comida, pf …
Obrigada Profa. Kátia Veloso!
Ótima questão para debates! Realmente penso que não há necessidade de usar óleos essenciais na culinária, uma vez que já existem muitos meios de aromatizar ou realçar os aromas e sabores dos alimentos com ervas e vegetais frescos e especiarias, bem mais sustentáveis do que a utilização dos OE para tal intento. Sem falar da possível alteração da química dos OE pelo aquecimento ou interação com os outros ingredientes do prato.
Olá, adorei a matéria.
Tenho visto algumas pessoas usando para culinária.
Eu acredito em minha humilde opinião, que os óleos essenciais são para uso terapêutico.
Ainda não experimentei e nem usei para culinária.